As festas folcloricas

A palavra Folclore vem da junção de duas palavras da língua inglesa: folk e lore (povo e saber). Fácil prever que, unidas, passam a significar o saber tradicional de um povo. Folclore é o que passa pelas tradições, costumes e superstições das classes populares. Para que vire folclore é preciso que apresente as seguintes características:
 
Tradicionalidade: vem se transmitindo de geração a geração.
Oralidade: é transmitido pela palavra falada.
Anonimato: não tem autoria.
Funcionalidade: existe uma razão para o fato acontecer.
Aceitação coletiva: há uma identificação de todos com o fato.
Vulgaridade: acontece nas classes populares e não há apropriação pelas elites.
Espontaneidade: não pode ser oficial nem institucionalizado.
 
As características de tradicionalidade, oralidade e anonimato podem não ser encontradas em todos os fatos folclóricos, como no caso da literatura de cordel (tipo de poesia popular, originalmente oral, e depois impressa em folhetos rústicos expostos para venda e pendurados em cordas. Explora a rima e alguns poemas são ilustrados com xilogravuras), no Brasil, onde o autor é identificado e a transmissão não é feita oralmente.
 
Curioso é que a literatura de cordel surgiu na França, mas, hoje, desapareceu da cultura francesa, enquanto no Brasil virou folclore. Por que fatos assim acontecem? Segundo especialistas, quanto mais uma sociedade se urbaniza e evolui tecnologicamente, mais fácil o folclore desaparecer. "As festas de natureza religiosa permanecem enquanto a fé persiste. As outras festas tradicionais devem a sua continuidade aos significados e funções que lhes são atribuídas pelas comunidades, sendo renovadas e re-funcionalizadas e re-significadas quando ocorrem mudanças culturais", explica Roberto Benjamin, ex-presidente da Comissão Nacional de Folclore e professor da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco).
 
Segundo Rosane Volpatto, terapeuta e mestra de Reiki, que se dedica à pesquisa dos arquétipos das deusas e dos mitos e lendas brasileiras, as festas juninas se tornaram tão populares por sua identificação com as camadas mais simples da população, o que corresponde à maior parte dos brasileiros. "São festejos animadores de esperança, que não exigem grandes trajes ou despesas, pois quanto mais simples forem as vestes, mais apropriadas são para a ocasião. Para complementar, tais festas correspondem a um estado de regressão à primeira infância, o que faz o povo esquecer qualquer tipo de privação econômica ou conflito de valores."
 
Além das festas juninas, do Natal e do Carnaval, as principais festas folclóricas brasileiras são:
 
Festa do Divino: em honra do Espírito Santo, de raízes açorianas, e presente principalmente no Centro-Oeste do Brasil. A invocação do Espírito Santo originou-se da fé dos açorianos, quando das catástrofes naturais que infligiam o arquipélago. O isolamento das ilhas contribuiu para que o culto se arraigasse e permanecesse nos Açores, enquanto que, praticamente, desaparecia em Portugal. Os emigrantes açorianos levaram o culto ao Divino Espírito Santo para o Brasil, EUA, Canadá e áfrica, onde ainda hoje são repetidas as antigas cerimônias.
 
A crença no Espírito Santo é reconhecida como um dos principais focos das formas de religiosidade popular do Centro-Oeste, ao contrário do que acontece no Nordeste e Sudeste do país, onde outros santos padroeiros, como os juninos, ocupam lugar. A festa está intimamente ligada ao período da mineração de ouro e se conservou especialmente nas velhas cidades goianas do século XVIII, sendo rara e pouco solene nas cidades que foram fundadas depois do ciclo do ouro. A festa do Divino Espírito Santo realiza-se no Domingo de Pentecostes, festa móvel católica, que acontece sempre cinqüenta dias depois da Páscoa, em comemoração à vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo
 
Festa de Nossa Senhora do Rosário: dada como padroeira dos escravos africanos, permanece cultuada pelos afro-descendentes em várias regiões do País. A festa é realizada no primeiro domingo de outubro, quando a igreja realiza missa solene, coroação de Nossa Senhora, almoço para a comunidade. Nesse dia, o povo sai em procissão pelas ruas, cantando e acompanhando a banda de música, as crianças vestem-se de anjos, cumprindo as promessas dos pais, os irmãos e irmãs carregam os andores, o rei e a rainha as coroas, lembrança dos reisados e congadas.
 
A devoção a Nossa Senhora do Rosário se origina por volta de 1200, em Colônia (Alemanha). Logo a devoção se propagou, sendo levada também por missionários portugueses ao Congo. No Brasil, ela foi adotada por senhores e escravos. No caso dos negros, ela tinha o objetivo de aliviar-lhes os sofrimentos infligidos pelos brancos. Os escravos recolhiam as sementes de um capim, cujas contas são grossas, denominadas "lágrimas de Nossa Senhora", e montavam terços para rezar. Hoje a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos é uma referência para movimentos de consciência negra, porque apresenta uma tradição religiosa que remonta aos tempos dos primeiros escravos.
 
Bumba-meu-boi: as comemorações diferem segundo a região e o tempo. No mês de junho, as festividades acontecem na terra amazônica, no Rio de Janeiro e no Mato Grosso do Sul. Já no Nordeste ele está ligado às festas do ciclo de Natal. Boi-Bumbá é uma mistura de culturas. As suas figuras predominantes são, além do Boi, em que se destaca um cabloco rude e valente, que é conhecido como "cabra-bom", que se ufana da distinção e a pleiteia como honra, o Pai Francisco, a Mãe Catirina, o Vaqueiro, o Caçador, o médico e o Pajé. O enredo deste festival resgata uma história típica das relações socio-econômicas do período colonial, marcado pela monocultura, a criação extensiva e a escravidão.
 
Boi-de-mamão : é uma versão catarinense dos folguedos do bumba-meu-boi. O primeiro registro em Santa Catarina desta folia é de 1871. Foi utilizado um mamão verde para fazer a cabeça do boi, daí seu nome atual. A manifestação acontece entre o Natal e o Carnaval.

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